quinta-feira, 24 de março de 2022

Zé do KISS -Zine Contra Mão Musical


Outro dia pela manhã, estava eu conversando com minha mãe sentados num banco ao lado da portaria do prédio onde moramos, quando de repente chegou um cara boa pinta, talvez com 56 anos , e pediu para sentar no outro banco.

O tal sujeito chegou já puxando assunto com sorriso de lado bem vestido mas com uma malandragem com classe típica de quem não está mal financeiramente na vida...coisas do litoral de Santos.

Daí eu estava fumando meu cigarro e ele disse que conseguiu parar. Ele fumava sete à nove cigarros por dia e me perguntou quanto eu fumava.

Disse que fumava três maços por dia mas diminuí para dois maços de cigarros baratos do "esquema" e minha mãe falou que fumava também e conversa vai conversa vem, chegamos a falar que estamos fodidos mesmo, ninguém fica para semente e que vamos morrer de um jeito ou de outro e ele perguntou a minha idade e disse 52.

Daí, ele concluiu que eu vivi uma época boa de viver nesse mundo e ele concluiu isso rápidamente, porque esqueci de comentar o homem é corretor de imóveis logo, está explicado todo o espírito de se comunicar bem.

Todavia, o que me marcou no que ele disse é ele ter destacado que vivi numa época boa de viver, coisa que já exaltei aqui e sendo assim vou retomar a proposta original desse Blog e contar na íntegra o que era viver em Santos e São Vicente em 1982, 1983, 1984...enfim a década de 80 inteira.

E essa é um missão fácil porque vivi uma Noite em Santos da qual nunca mais me esqueci e nunca vi nada igual mais.

Já comentei no início desse Blog sobre o Zé do KISS.

Sim!

Uma das minhas alegrias era sair do Colégio Objetivo , pegar carona no farol com uma turma do Rock.

Porém, a carona consistia nos anos de 1982 e 1983, em esperar o semáforo fechar, e abordar os carros parados no vermelho e perguntar se eles iriam seguir em frente na orla de Santos.

Era comum, natural, muitos faziam isso, porque o pessoal parado no semáforo via-nos com material escolar nas mãos e sem hesitar falava de boa: "entra aí que deixo vocês lá"

Seguíamos uns 2 km e meio e cada um descia no bairro mais importante de Santos, o Gonzaga e cada um pegava seu destino.

Fazíamos isso perto do horário do almoço depois que acabavam as aulas e cada um ia para sua casa e eu ia no Gonzaga fazer a primeira parada obrigatória na "TOP Discos" da "Tia" loja que ainda existe e eu ia ver camisetas de Heavy Metal e adereços como braceletes de rebite e é claro conferir se tinha sido lançado algum disco novo, mas eu raramente comprava discos lá, eu ia porque era o pitstop do Metal.

Segunda parada: Loja "Opus" ia só para ver e namorar os vinis importados que eu não tinha dinheiro pra comprar, mas ficava viajando só de ver as capas.

Depois a parada que era um Portal para outra dimensão: A Loja de uma lenda viva: Zé do KISS.

Bem, aqui era onde eu queria chegar.

Até porquê a Loja do Zé do KISS era dentro da casa dele, que vivia com seus pais num sobrado humilde.

Para se chegar na Loja que ficava na Rua Bernadino de Campos no Canal 2, atravessava-se a sala do Zé do KISS , cumprimentava-se os pais dele, subia-se uma escadaria o que era uma Stairway to Heaven, se bem que nesse ano de 83 eu não ouvia Zeppelin ainda, eu ouvia NWOBHM Iron Maiden, Saxon e Sabbath com Dio etc.

Depois da escadaria entráva-se no quarto e lá se encontrava o Zé do KISS e o Blackmore.

A primeira vez que fui em sua Loja se tinha cinco vinis era muito.

Mas entåo o que os Headbangers iam fazer numa Loja com poucos discos?

Gravar é a resposta!

Gravar fitas K7!

Pra encurtar a prosa, o Zé do KISS que deve ter 1.95 de altura no mínimo e era jogador de Basket, tinha nas prateleiras de madeira,  os vinis importados de raridades que brilhavam e seduziam a todos pois quase ninguém tinha em Santos.

Foi com o Zé do KISS que gravei o Battle Hymns do Manowar, Kill' em All o primeiro do Metallica e com o tempo muitos outros, pois ele começou a gravar para Headbangers famintos por Heavy Metal e ele foi comprando coisas como o ao vivo do Alcatrazz que revelou Yngwie Malmsteen, Raven, Jag Panzer, Savatage etc.

Blackmore era seu assistente que ficava o acessorando nas gravações.

O Blackmore pra se fazer uma ideia foi Campeão de Air Guitar do Brasil e agitava dançando nos Bailes de Metal e dava verdadeiros shows em suas performances nas suas músicas preferidas.

Não sei dizer quando, mas foi o Blackmore que numa tarde que o Zé nåo estava que ele perguntou se eu tinha visto o filme "The Song Remains The Same" do Led Zeppelin e disse que não tinha visto e o Blackmore disse que eu timha que assistir e ele fez um air drums , para me explicar o que era o John Bonham tocando bateria sem as baquetas, ou seja,  tocando com as mãos e lembro dessa tarde como se fosse hoje.

Depois vou me informar se foi por volta do final dos anos 90 que encontrei com o Blackmore na Galeria do Rock em Såo Paulo onde ele foi trabalhar e ele me contou que timha sido Campeão Brasileiro de Air Guitar, que chamávamos de "Guitarra Imaginària" (eu tinha e ainda tenho uma coleçåo enorme de Guitarras Imaginàrias prontas para eu tocar a qualquer momento)

Atrás do balcão ficava um aparelho de som simples: um "três em um" que era toca disco, gravador,e rádio, mas que dava qualidade de gravação nas preciosas e lendárias fitas K7.

E os preços das gravações das fitas K7  da Loja do Zé do KISS era bem acessíveis.

Eu passava lá encomendava , conversava com o pessoal que aglomerava no quarto dele e só depois eu ia para casa em São Vicente, almoçar, tarde e já no ap eu continuava ouvindo som até a hora de ir para o Judô.

Então, tudo tinha uma aura onírica e mágica.

Estávamos, nós, os Headbangers, gravando os grandes discos importados que ouço até hoje e são clássicos indiscutíveis como o Ride in The Lightning ,  o segundo Metallica e muitas outras coisas.

Na Loja do Zé do KISS, não rolavam drogas e por eu ser Judoca na época eu não fumava cigarro.

E o Judô e o Rock me aproximaram de uma grande personalidade de Santos e Såo Vicente que infelizmente foi vitimado pela diabetes, 10 anos depois do Chorão do CBJ ter salvado sua vida que é o eterno Tarso Wiedark que fez um sucesso no underground depois com a Banda de Sexcore com o Carnal Desire que ficou conhecida nacionalmente depois de participar no programa de entrevistas do Jô Soares em 2008.

E eu treinava Judô com o Tarso no Santos Futebol Clube e o Tarso tinha uma Banda com o Zé do KISS que tocava bateria, numa Banda de Black Metal, chamada Trevas que foi pioneira no estilo no Brasil e serviu de certa forma, influenciou também para o Vulcano do lendário Zhema Bodero que hoje faz Death Metal.

Detalhe importante: O sobrado, a House, do Zé do KiSS era simples.

O Zé sempre fez tudo o que fez e continua fazendo pelo Rock n Roll com pouco dinheiro, tanto que ele foi o primeiro baterista que vi ensaiando tocando com panelas e baldes, e hoje é comum ver um Kit assim no YouTube.

Enfim a Grande Noite tinha chegado.

O dia ninguém lembra, porque todos os Headbangers de São Bicente e Santos foram convidados, mas ninguém sabia ao certo o que iria ver.

E o que vimos foi além da imaginação.

O Zé do Kiss , na sala da casa dos pais dele, fez um verdadeiro Festival de Metal.

Isso mesmo!

Como fui um dos primeiros a chegar garanti meu lugar bem na frente, dentro da sala.

Duas Bandas tocaram antes e não lembro o nome delas.

Porém, o que mais marcou era ver todos os Headbangers amontoados e muitos do lado de fora da casa dele, afinal parecia que tinha acontecido como no videoclipe de "I Love it Loud" do LP de 1982 Creatures of The Night da Banda KISS.

Tinha muita gente mesmo e um amigo do Colégio Objetivo na época que tocava bem, tocava Randy Rhoads, o Bebeto que era um cara que tinha grana comparando com a maioria dos Headbangers, e ele falou pra mim:

"William... você não imagina o que vou fazer"...e continou o Bebeto a falar dando risada: eu vou ser a minha Banda vai ser a segunda a tocar e vou colocar na frente da Bateria fogos de pirotecnia.

Daí tocou a primeira Banda e o os pais do Zé tinham já uma certa idade e passavam entre os Headbangers de pijamas.

Quando o Bebeto entrou com sua guitarra Fender Stratocaster ele acionou os fogos com explosivos de pirotecnia e aí foi o caos.

Ninguém se queimou ,mas aquilo fez uma fumaça tão absurda que passamos mal de tanto tossir sem consenguirmos respirar direito e rimos de gargalhadas até não poder mais.

Estava também o Ailes que também fazia e hoje é Sensei de Judô, na época treinava no Santos com o Tarso e eu.

E o Ailes, o Thunder Ball Lobão, que sempre foi nativo do Surf também e é de baixa estatura, ria num tom mais grave e alto que todos.

Foi o Ailes queviniciou o Tarso no Rock n Roll e que compôs com ele a famosa "Ovo Frito" que nunca foi gravada.  

Contudo o Headline da Noite estava para acontecer.

O Trevas chegou para. fechar a Noite! 

E finalmente quando eles entraram, o Zé do KISS estava com maquiagem tipo corpse. 

E o Zé do KISS primeiro estava tão ansioso para tocar porque ele iria tocar numa Bateria de verdade, tanto que ele não deixava o Tarso hiper carismático, apresentar a Banda no microfone.

O Zé não parava de fazer chops, solos e rìtmos na bateria até que o Tarso o vocalista gritou com ele rindo parar de tocar dizendo:  "Para com essa porra de bateria Zé!Caralho!Deixa eu apresentar a Banda!"

E todos os Hedbangers se divertindo demais porque era tudo surreal demais.

E rolou o Som do Trevas desse jeito.

Um Black Metal Alto Astral rolando piadas e aquele tipo de coisa.

Isso tudo, nos dias de hoje,  simplesmente não aconteceria e não acontecerá jamais.

As Bandas no mínimo tocam em Bares e Afins e não existia celulares para gravar e o Trevas também nunca chegou a gravar nem uma Demo.

Essa sem dúvida foi uma das Noites mais surreais e hilárias que vivi no alto dos meus 14 para os 15 anos.

O Zé do KISS chama-se José Júlio Coelho e está morando no Piauí na cidade de Demerval onde ele trabalha num Hospital.

Pai de família, o Zé do KISS tem  um Canal no YouTube chamado :Zine Contra Mão Musical onde da casa dele, seu QG, ele divulga todas as vertentes do Rock n Roll nacional.

Eu tive um programa por lá chamado "Lado B" mas devido há problemas pessoais parei de apresentá-lo.

Foi uma experiência miito gratificante fazer o Lado B pois foi feito tudo na raça também.

Então fica assim pessoal, como assertivamente disse o corretor de imóveis eu e nós daqueles idos, vivemos uma época inigualável, a década de 80 em Santos quando Heavy Metal Santista nasceu e até hoje está pela cidade representada desde de 1981 pelo Vulcano Banda do Zhema que também estsva na festá do Zé do KISS.

Pode-se dizer que o Filme Wayne's World tem uma ligeira semelhança de como era o clima na Loja do Zé.

Nota importante!

 O Zé quer fazer um curta metragem dessa Noite do Metal em Santos na sala da ex casa dele e escrevi essa crônica em duas horas e meia mais ou menos no meu celular Tabajara na Madrugada para desencanar também do Conflito/Guerra que está acontecendo na Ucrânia.

Esse no vídeo linkado é o José Júlio Coelho conhecido em Santos como Zé do KISS, um Grande Amigo também famoso por divulgar o Punk Rock gênero que ele incorporou e teve várias Bandas , entre elas o Mordedura que tem suas raízes em Santos/SP.

Se inscrevam no canal do YouTube Zine Contra Mão Musical e deem uma Força para o Zé do KISS ou divulguem sua Banda no cana ZCM.

That's All Folks!







  








4 comentários:

  1. Zé do Kiss, ou Zé Júlio como o conheci (não pessoalmente, apenas virtual). Gente finíssima e muito dedicado ao underground. Já peguei vários materiais com ele (zines, camisetas, CDs). A primeira vez que ouvi ele na batera foi no Tropa Suicida. Esse é o cara. Em tempo, parabéns pela crônica. Lendo isso daí me bateu uma put@ nostalgia da inesquecível década de 80.

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  2. Zine Contra Mão Músical do YouTube e em Papel na linha frente lutando contra todo o lixo musical do Brasil que só aliena as pessoas.Vida longa ao Zé Julio eterno Zé do KISS que tem uma grande vivência no Rock de São Paulo assistindo os melhores shows nas décadas de 70 e 80.É isso aí Família.

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