quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Emil Cioran



A Arrogância da Oração


Emil M. Cioran


Quando se chega ao limite do monólogo, aos confins da solidão, inventa-se — na falta de outro interlocutor — Deus, pretexto supremo de diálogo. Enquanto o nomeias, tua demência está bem disfarçada e… tudo te é permitido. O verdadeiro crente mal se distingue do louco; mas sua loucura é legal, admitida; acabaria em um asilo se suas aberrações estivessem livres de toda fé. Mas Deus as cobre, as torna legítimas. O orgulho de um conquistador empalidece comparado à ostentação do devoto que dirige-se ao Criador. Como se pode ser tão atrevido? E como poderia ser a modéstia uma virtude dos templos, quando uma velha decrépita, que imagina o Infinito a seu alcance, eleva-se pela oração a um nível de audácia ao qual nenhum tirano jamais aspirou?


Sacrificaria o império do mundo por um só momento em que minhas mãos juntas implorassem ao grande Responsável de nossos enigmas e de nossas banalidades. Entretanto, esse momento constitui a qualidade corrente — e como que o tempo oficial — de qualquer crente. Mas quem é verdadeiramente modesto repete a si mesmo: “Demasiado humilde para rezar, demasiado inerte para transpor o limiar de uma igreja, resigno-me à minha sombra e não quero uma capitulação de Deus ante minhas orações”. E aos que lhe propõem a imortalidade, responde: “Meu orgulho não é inesgotável: seus recursos são limitados. Pensam, em nome da fé, vencer seu eu; na realidade, desejam perpetuá-lo na eternidade, pois não lhes basta esta duração presente. Sua soberba excede em refinamento todas as ambições do século. Que sonho de glória, comparado ao seu, não se revela engano e vã ilusão? Sua fé é apenas um delírio de grandeza tolerado pela comunidade, porque utiliza caminhos camuflados; mas seu pó é sua única obsessão: gulosos do intemporal, perseguem o tempo que o dispersa. Só o além é bastante espaçoso para suas cobiças; a terra e seus instantes parecem demasiado frágeis. A megalomania dos conventos supera tudo o que jamais imaginaram as febres suntuosas dos palácios. Quem não admite sua nulidade é um doente mental. E o crente, entre todos, é o menos disposto a consentir. A vontade de durar, levada até tal ponto, apavora-me. Recuso-me à sedução malsã de um Eu indefinido. Quero chafurdar-me em minha mortalidade. Quero permanecer normal.”


(Senhor, dá-me a faculdade de jamais rezar, poupa-me a insanidade de toda adoração, afasta de mim essa tentação de amor que me entregaria para sempre a Ti. Que o vazio se estenda entre meu coração e o céu! Não desejo ver meus desertos povoados com Tua presença, minhas noites tiranizadas por Tua luz, minhas Sibérias fundidas sob Teu sol. Mais solitário do que Tu, quero minhas mãos puras, ao contrário das Tuas que sujaram-se para sempre ao modelar a terra e ao misturar-se nos assuntos do mundo. Só peço à Tua estúpida onipotência respeito para minha solidão e meus tormentos. Não tenho nada a fazer com Tuas palavras. Concede-me o milagre recolhido antes do primeiro instante, a paz que Tu não pudeste tolerar e que Te incitou a abrir uma brecha no nada para inaugurar esta feira dos tempos, e para condenar-me assim ao universo, à humilhação e à vergonha de existir.)


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Conflitos Existenciais não seduzem.


Se você buscar as respostas para a Condição Humana, caso as encontre, sentirá muita aflição e seu inconformismo poderá dar lugar a uma qualidade de Revolta permanente interior.


Caso você perdure na sua Senda individual, e continue Buscando respostas mais Trancendentais, não necessariamente só a longo prazo, mas geralmente o Saber só pode ser desfrutado por meio do Empirismo, logo, depois de Trilhar os Viézes Místicos Ocultos por muito tempo, poderá enfim colher os Frutos da Auto-Aceitação e da Aceitação das Adversidades.


Integrar e Equilibrar suas Inclinações com as quais você vivencia  tanto o lado Positivo como o inevitável  lado com sabor Negativo da Vida, as Intempéries indesejadas advindas das vicissitudes, se faz fundamental.


Para não me prolongar muito, vou deixar  publicado trechos, excertos, fragmentos que escolhi do livro "Do inconviniente de ter nascido" do escritor e filósofo greco- romeno Emil Cioran.


Deixo apenas o aviso que Emil Cioran é para poucos, pois o pessimismo de Cioran pode deprimir antes de libertar seu leitor.


Então vamos a alguns trechos do livro "Do incoviniente de ter nascido" de Emil Cioran.


"O auto-conhecimento, o mais amargo dos conhecimentos, é também o menos cultivado: pra que, afinal, se surpreender da manhã à noite em flagrante delito de ilusão, rememorar sem piedade até as raízes de cada ato, perdendo causa após causa no seu próprio tribunal?”


«…o sentimento de ser tudo e a evidência de não ser nada». O azar me fez tropeçar, durante a mocidade, nesse fim de linha em forma de frase. Fui arremessado num turbilhão. Tudo que eu sentia, e tudo que passei a sentir a partir dali, estava resumido nesta fórmula extraordinariamente banal, síntese da dilatação-compressão, do êxtase-impasse, dos altos e baixos crônicos da minha vida. O mais freqüente é que surja uma revelação não de um paradoxo, mas de um truísmo.”


"Virtudes se consomem rápido, quão mais virtuosas são em si. Os vícios só se agravam com a idade."


"É um privilégio viver em conflito com seu tempo. A cada momento é-se consciente de que não se pensa como as outras pessoas. Esse estado de dissonância aguda, por mais indigente, por mais estéril que ele possa parecer, possui entretanto um estatuto filosófico que se procuraria em vão nas cogitações que concordam com os eventos em marcha.”


"A verdade reside no drama individual.”


"Um livro é um suicídio procrastinado.”


"A pena de nós mesmos é menos estéril do que se pensa. Desde que se sinta o menor acesso, adquire-se uma pose de pensador, e, maravilha das maravilhas, chega-se mesmo a pensar.”


"O fracasso, mesmo reprisado, parece sempre novo, enquanto que o sucesso, ao se multiplicar, perde todo o interesse, toda a atração. Não é a desgraça, é a felicidade, a felicidade insolente, é vero, que conduz à acidez e ao sarcasmo.” Depois da pizza é que vem a azia!


"Dois inimigos são um mesmo homem dividido.”


"A única confissão sincera é a que fazemos indiretamente – falando dos outros.”


"Só Deus tem o privilégio de nos abandonar. Os homens só podem nos soltar.”


“É mais fácil avançar com vícios do que com virtudes. Os vícios se entendem uns com os outros, já as virtudes são mutuamente invejosas, se anulando na intolerância.”


"Não ter nascido, nada com que se preocupar, que felicidade, que liberdade, que espaço!”


"Minha faculdade de ser decepcionado ultrapassa o entendimento. É ela que me faz compreender o Buda, mas é ela também que me impede de segui-lo.”


“Tzimtzum. Essa palavra risível designa um conceito maior da Cabala [Zohar]. Para que o mundo existisse, Deus, que era tudo e estava em tudo, consentiu em se contrair, para deixar um espaço vazio que não fosse habitado por ele: é nesse <buraco> que o mundo tomou lugar.


Sendo assim, ocupamos o terreno vago que ele nos concedeu por misericórdia ou por capricho. Para que nós fôssemos, ele se contraiu e desmilingüiu, limitou sua soberanidade. Nós somos o produto de seu emagrecimento voluntário, de seu apagamento, de sua abstenção parcial. Em sua loucura, ele se amputou de nós. Que falta de bom senso e de bom gosto teve esse Deus, para não se conservar inteiro!”


"A primeira condição para se tornar um santo é amar os chatos, é suportar as visitas…”


“A psiquê – vapor”


“Deus não lê…”


"Deus é, mesmo se ele não é.






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